Medo. Foi o que fez o seu coração disparar
mais forte. A decisão estava tomada. Ela precisava sair daquele lugar, tomar
outros caminhos e começar uma nova vida.
Ela olhou a sua volta, as paredes já
descascadas pelo tempo, o basculante de metal azul – sem vidro –, o cheiro de manga que impregnava toda a casa e
a fazia lembrar do balanço que ficava pendurado na mangueira quando ela era
pequena. Tudo a fazia lembrar que nunca mais veria aquela casa. A nostalgia, um
sentimento agridoce, apertava o seu coração.
Aquele desconhecido futuro não era
completamente certo, mas ela sabia que era para ele que deveria correr. Nada
que vinha dele era concreto, apenas sombras incertas. E todos sabem que as
sombras são facilmente extinguidas quando postas à luz, como num sol de
meio-dia. Porém, era preciso se lançar na escuridão para alcançar a luz que
dissiparia todas as incertezas.
O medo e a esperança se misturavam e
a faziam ter vertigem. Como pode uma pequena decisão, de ir ou não ir, ter o
poder de modificar uma vida? O que mudaria na vida dela a partir da escolha que
fizesse? As dúvidas eram tantas; as certezas, nenhuma.
Disse para si mesmo que seria forte.
Tomou as suas malas, trancou a porta e caminhou em direção ao portão. A cada
passo que dava lembranças, que mais pareciam fantasmas, voltavam a atordoar a
sua mente. Risos, brincadeiras, conversas, brigas... Pareciam reais, mas eram
apenas lembranças.
Ela não se conteve, virou-se para
trás. Não conseguia mais voltar para o seu caminho. Parecia estar hipnotizada
pela casa e por tudo que ela viveu ali. E assim ficou aprisionada ao passado,
como uma estátua de sal.