sábado, 21 de janeiro de 2012

Ressurreição (Tema: Vulcões de Maionese)

O telefone tocou. Carlos se perguntava quem era o infeliz que o acordava tão cedo assim. Na verdade já passava do meio dia, mas a noite tinha sido boa para ele, fazia tempo que ele não tinha uma folga. Ele atendeu o telefone e a voz na linha disse para que ele ligasse a televisão em qualquer canal. Ligar a televisão em qualquer canal? Ele sabia que tinha acontecido alguma merda.

Uma bela repórter aparecia na tela da televisão anunciando a notícia com aquela música de notícia urgente ao fundo. Um vulcão no Brasil, há muito inativo, dava sinais de que estava voltando à ativa. “Adeus, querida folga”, pensou. Ele é um vulcanologista que trabalha para o governo, junto com outros vulcanologistas, oceanógrafos, geólogos e outros profissionais do tipo. Sabia que teria que investigar esse caso bizarro, mesmo a repórter dizendo que a população não precisava se alarmar, já que era cedo para saber se realmente havia o risco de erupção, era ele que teria que dizer se a população deveria se preocupar ou não.

O que mais o chamava a atenção era o fato de que o vulcão se localizava na província aurífera de Tapájos, no Pará. Ou ele estava ficando doido ou tinha alguma coisa muito errada com o planeta.

Abre parêntese: o vulcão de Tapájos se localiza entre os rios Tapájos e Jamanxim. Ele tem sua idade estimada em quase dois bilhões de anos, sendo considerado um dos maiores e mais antigos dos já conhecidos. Ele se mantem preservado do intemperismo e da erosão. Todos sabem que isso é muito difícil de acontecer. Sabem também que é praticamente impossível um vulcão com essa idade entrar em atividade, já que o ciclo de atividade é de 3 a 4 milhões de anos. Estranho... Fecha parêntese.

Ele coçou o queixo enquanto ouvia o blá blá blá do Charlie do outro lado da linha. O Charlie não tem o poder de síntese. Ele levou mais de trinta minutos para dizer que o vulcanologista deveria estar no local de trabalho o mais rápido possível.

Ele conseguiu chegar em 35 minutos. Entrou no elevador e subiu. Quando chegou no último andar, adentrou em uma grande sala onde se encontrava a secretaria de Crarlie e uma mulher ruiva de costas. Como sempre o Charlie não estava na reunião e mandara a secretária dar as instruções.

― Agente Marina Talisa este é o senhor Carlos Pandolfo ― apesentou a secretaria.

A agente se levantou e virou-se esvoaçando seu cabelos vermelhos.

― Nina ― sussurrou Carlos. Os dois tiveram um caso quando estavam na faculdade, mas o gênio forte dela fizeram com que eles tomassem rumos diferentes e agora eles estavam na mesma sala. Não poderia ser pior.

― O Senhor irá trabalhar com a agente Marina até resolvermos o caso desse vulcão.

― Por que eu trabalharia com uma agente num simples trabalho como esse? ― Disse desconcertado.

Desde quando investigar a atividade de um suposto vulcão inativo há muito tempo era uma atividade fácil? Não importava, ele apenas não queria trabalhar com aquela mulher.

― O vulcão está em uma propriedade privada e os donos não permitem a entrada de estudiosos no local, mas vocês entrarão lá e investigarão se a notícia que se espalhou é verdadeira.
― Que notícia?

― Estão dizendo que a ativação do vulcão não é natural ― disse a agente Nina.

― Mas se eles não permitem a entrada de pesquisadores, como entraremos lá?

― Será dado um jantar para autoridades no local. Parece que o Dono, como ele se auto intitula, quer provar que a sociedade não precisa se preocupar com o que a imprensa diz. Vocês irão disfarçados como um casal da alta sociedade. Enquanto você analisa o vulcão, ela te dará cobertura.

― O quê? Você tá dizendo que nos disfarçaremos como um casal, que nem nos filmes de comédia romântica. Brigaremos o jantar inteiro, até que em algum momento estaremos em perigo e descobriremos que toda a nossa implicância era apenas tensão sexual e eu ainda guardo algo aqui dentro por... Acho que falei demais!

A secretaria anuiu.

― É melhor vocês irem agora, se não chegarão atrasados. Toda as informações que vocês precisam estão dentro dos envelopes.

Quando eles chegaram onde seria o jantar, uma especie de vídeo promocional estava passando, Carlos achou algo estranho naquele vídeo, algo meio familiar, mas ele não sabia dizer o que era.

Não importava eles tinham que aproveitar aquele momento para tentarem fazer alguma coisa. Eles saíram do grande salão de festas e logo viram o vulcão, mas havia guardas por tudo quanto era lado. Nina iria distrair os guardas enquanto ele ia em direção ao vulcão.

Fora construído uma especie de torre ao lado do vulcão que tinha o mesmo tamanho que ele. Carlos decidiu subir pela torre. Ela estava estranhamente vazia e não se ouvia o barulho de nada. Apesar de ser um prédio moderno não havia elevadores, por isso ele foi subindo pelas escadas.

Quando ele chegou ao ultimo andar ele se deparou com um salão enorme e lá estava um homem que disse:

― Quem ousa entrar em minha presença sem a minha permissão?

Carlos reconheceu a voz. Era a voz do Charlie!

― Charlie?

― Ora céus, como é duro ser a minha pessoa! Lógico que eu não sou o Charlie. Nunca mais ouse a me chamar por esse nome. Até mesmo porque você não terá outra chance, hoje será o dia da sua morte e de todas essas pessoas que estão dentro daquela sala.

Uma especie de pedestal levantava aquele ser estranho, que falava coisas sem muito sentido, até o teto que agora se abria .

Quando a Nina chegou na sala dizendo:

― Temos que parar este homem! Ele construiu uma parafernália dentro do vulcão que irá transbordar magma para tudo quanto é lugar e irá matar todos nós.

―Como você ficou sabendo de tudo isso?

― Eu perguntei para um guarda.

― E ele respondeu , assim, simplesmente?

― Claro que não, ele quis coisas em troca.

― Que tipos de coisas?

― Hei, tem como os pombinhos pararem de discutir? O que realmente importa é que hoje me vingarei do meu irmão. Serei melhor do que ele, serei melhor do que qualquer um aqui. Matarei todos aqui, tomarei o poder e o meu querido irmão terá que se curvar aos meu pés. Agora é minha hora, o meu helicóptero já chegou. Boa morte para vocês, desfrutem do último minuto da vida de vocês, isso é tudo que lhes resta.
Ele subiu pela escadinha que lhe jogaram e o helicóptero sumiu de vista. O chão começara a tremer. Nina e Carlos se olharam. Nina puxou Carlos para ela e o beijou. O vulcão explodiu... Mas a larva não queimava, era morna e pastosa e com um gosto estranho. Aquilo era maionese! As pessoas saíram correndo feito doidas, todas brancas de maionese.

Na manhã seguinte a televisão noticiava que o ocorrido tinha sido uma campanha de marketing de uma marca de maionese, mas Carlos sabia que a história não era bem assim, ele tinha ouvido tudo que aquele louco tinha dito. Sua cabeça girava de tantas perguntas que ele tinha sem respostas. O telefone tocou. Era o Charlie:

― Carlos Pandolfo, você deve ter diversas perguntas sobre ontem a noite. Não poderei te dar as respostas de todas, mas te darei as que eu estou autorizado a te dizer. Aquele louco de ontem à noite é ninguém mais, ninguém menos que o meu irmão. Digamos que ele foi uma criança meio mimada. Ele tinha planos de matar todos naquele jantar para se tornar um grande ditador, o que não deu muito certo, graças a Marina Talisa que conseguiu por um composto químico dentro da caldeiraria do vulcão, que causou aquela meleca toda.

― Então ela sabia de tudo? ― Ele pensou que se Nina sabia que eles não iriam morrer ela o beijou porque...

― Podemos considerar que sim.

― Mas porque então eu fui nessa viajem maluca, colocando a minha vida em risco caso o plano não desse certo? Eu sou apenas um vulcanologista!

― Não estou autorizado a falar sobre isso, mas dizem que foi exigência da própria que você fosse na missão com ela.

Carlos desligou o telefone deu um suspiro e foi até a janela para tentar assimilar aquilo tudo. Lá estava ela do outro lado da rua. Ele saiu correndo para encontrá-la, chegando do outro lado da rua, só encontrou um pedaço de papel no chão. O cartão dizia: “Nos encontraremos mais vezes”.

Wigde Arcângelo

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